O paraplégico que encantou o mundo no Rally Dakar em uma moto mas…

O mundo se apaixonou por Nicola Dutto quando foi para o deserto de Atacama, no Peru, para fazer história como o primeiro piloto paraplégico a correr no Rally Dakar na categoria das motos. Os três primeiros dias da competição não trouxeram desafios para o herói e sua equipe de “pilotos fantasmas” (um andando à frente para escolher as melhores linhas, dois seguindo como fieis escudeiros em caso de necessidade), a cada dia que passava eles se sentiam fortes  e certos de que terminariam o lendário Rali de 10 dias.
Nicola Dutto
No decorrer do quarto dia de prova, entre Arequipa e Tacna, foi uma maratona de 405 quilômetros, grande parte passando por dunas muito pulverulentas que acabava por afundar muito as rodas e exigindo muito mais dos motores. Foi aqui que a equipe sofreu seu primeiro grande revés quando a moto de Julián Villarrubia perdeu força. Três horas foram perdidas para que a máquina funcionasse novamente, e que por ventura viesse falhar outra vez algumas milhas depois.
Nessa altura Nicola Dutto e o restante de seus colegas de equipe, Pablo Toral e Victor Rivera, decidiram deixar Julián para trás e continuar, apesar do risco de segurança de ter apenas um observador de retaguarda, ao invés de dois como foi planejada desde o princípio.
Nicola Dutto
Não muito longe de um posto de controle a moto de Victor também começou a rodar mal, criando uma preocupação ainda maior para o grupo, mas a equipe seguiu para o próximo posto de controle, chegando lá eles informaram aos oficiais que Julián e sua moto precisariam ser resgatados para que a moto com problemas pudesse ser consertada. Em seguida, eles perguntaram ao chefe do posto de controle se era possível que em troca de uma penalidade de tempo eles pudessem viajar por uma estrada até o acampamento – uma opção mais segura agora que a equipe estava em baixa com a ausência de um piloto de apoio.
E assim começou uma cascata de desinformação que prematuramente encerraria a corrida para Nicola Dutto e desencadearia uma onda de indignação contra a organização do Rally Dakar e seu diretor, Etienne Lavigne.
Nicola Dutto recebendo assistência dos seus companheiros durante o Rally Dakar 2019

De acordo com Nicola, naquele primeiro posto de controle o oficial de alto escalão de lá convocou a sede e confirmou que a equipe poderia realmente viajar pela estrada em troca de uma penalidade de tempo. E então eles seguiram para o próximo posto de controle, onde mais uma vez perguntaram ao alto funcionário a mesma pergunta. Mais uma vez foram feitas ligações para a sede e mais uma vez a equipe foi informada de que poderia continuar até o acampamento na estrada com apenas uma penalidade, esta última conversa, diz ele, gravada em vídeo por um dos seus companheiros de equipe.

Seguindo essa instrução, a equipe chegou ao acampamento com segurança e começou os preparativos para o dia seguinte, animada naquele dia em que entraria no quinto dia de prova, onde marcaria a metade do famoso Rally Dakar.

“Seguimos em direção aos comissários”, diz Nicola em um vídeo postado por Vicair, um de seus patrocinadores mais apaixonados, “e quando chegamos o diretor de corrida disse que estávamos fora da competição porque devemos seguir todos as rotas.”

Este julgamento súbito de Lavigne, diretor da prova, rapidamente desencadeou um tumulto global.

Nicola e sua equipe, famintos para terminar o Rally Dakar pelo qual gastaram tanto tempo e dinheiro se preparando, ficaram de coração partido. Uma legião de fãs em todo o mundo também ficaram tristes com o fim prematuro de uma aventura tão incrível – não apenas para fazer história no Dakar -, mas para abrir um novo caminho de esperança para outros ciclistas com deficiência.

Para adicionar insulto à injúria, a organização se recusou a explicar a desqualificação de Nicola, ao invés disso, postou em suas redes sociais que a equipe de Nicolo Dutto simplesmente não havia começado o dia.

“É uma triste maneira de sair do Rally Dakar porque estávamos nos sentindo fortes, estava me sentindo forte na moto. Eu estou aqui e nós demonstramos que podemos terminar a competição”, disse Nicola de forma quase melancólica no acampamento em Tacna.

Nicola Dutto sendo consolado após a notícia de que seria desqualificado

Mas acima de tudo, Nicola quer agradecer a todos que o seguiram e torceram, a quem ele diz que recebeu muitas energias positivas para poder pilotar todos os dias. Inspirado por todo o apoio que ele sugere, ele estará de volta, embora não seja novamente no Dakar. “Talvez em outra corrida, outro projeto no futuro.”

Até esse dia, continuaremos inspirados por este piloto corajoso, que em nenhum momento ousou querer abandonar a aventura.

Matéria originalmente traduzida do site ADVPULSE.COM